Ano XXV - 29 de março de 2024

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OS NOVOS TERRORISTAS DA MÍDIA


OS NOVOS TERRORISTAS DA MÍDIA

O MST - MOVIMENTO DOS SEM TERRA E A PRIVATIZAÇÃO DA VALE DO RIO DOCE (título do Cosife)

São Paulo, 30/04/2008

Referências: Meios de Comunicação - Mídia, Imprensa, Rádio e Televisão, O Terrorismo dos Mercenários da Mídia - Os Anarquistas. Fraudes nas Privatizações, Sociedade Civil.

Por Marcelo Salles - correspondente da Revista Caros Amigos no Rio de Janeiro e editor do jornal Fazendo Media (www.fazendomedia.com). Informativo da Revista Caros Amigos 325 de 11/04/2008. Com anotações em vermelho de Americo G Parada Fº - coordenador do site do Cosife.

Poucas vezes uma reportagem a respeito do MST foi tão distorcida quanto a do Jornal Nacional da última quarta-feira [09/04/2008]. Nos dois minutos e vinte e quatro segundos da matéria busca-se a criminalização dos camponeses; para tanto, imagens e palavras são cuidadosamente articuladas para transmitir ao telespectador a idéia de que os militantes do movimento são os responsáveis por todo o medo que ronda os paraenses.

Logo na abertura da matéria, o fundo escurecido por trás do apresentador exibe a sombra de três camponeses portando ferramentas de trabalho em posições ameaçadoras, como a destruir a cerca cuidadosamente iluminada pelo departamento de arte da emissora. Quando os militantes aparecem nas imagens, estão montando o acampamento e utilizando folhas de palmeiras - naturalmente já arrancadas das árvores. Quando a matéria corta para ouvir a opinião de um empresário local, ele tem ao fundo exatamente uma folha de palmeira, só que firme no solo - vistosa e viva. O representante da Vale do Rio Doce é o que tem mais tempo para se manifestar, até gagueja e balbucia: "esses movimentos... estão [nos] impedindo de trabalhar". Em nenhum momento os representantes do MST são ouvidos, o que contraria, inclusive, as próprias regras do manual de jornalismo da Globo. Mas quando os interesses comerciais de empresas amigas estão em jogo essas regras são postas de lado. [Os Mercenários da Mídia].

Outro dado marcante desta reportagem é a descontextualização dos fatos. O telespectador é apenas informado que o MST “ameaça invadir a Estrada de Ferro Carajás, da Companhia Vale”, mas não se explica que esta ação direta tem uma origem: a privatização fraudulenta da empresa que era estatal. A companhia foi leiloada, em 1997, por R$ 3,3 bilhões. Valor semelhante ao lucro líquido da empresa obtido no segundo trimestre de 2005 (R$ 3,5 bi), numa clara demonstração do prejuízo causado ao patrimônio nacional. Desde então, cidadãos e cidadãs vêm promovendo manifestações políticas e ações judiciais que têm por objetivo chamar a atenção da sociedade e sensibilizar as autoridades competentes para anular o processo licitatório. Se há uma diferença brutal entre discordar de uma determinada opinião e omiti-la, este caso torna-se ainda mais grave porque não se trata de uma opinião, e sim de um fato político: a privatização da Vale é questionada na Justiça - e com grandes chances de ser revertida. Ao sonegar esta informação, a Globo comete um crime.

Com a mesmíssima parcialidade age o jornal carioca O Globo. A reportagem publicada no mesmo dia sobre o MST não deixa dúvidas quanto a posição contrária do jornal. A chamada na capa diz: “MST desafia a Justiça e volta a ameaçar a Vale”; o pequeno texto, logo abaixo, aprofunda a toada: “O MST ameaça descumprir ordem judicial e invadir novamente a ferrovia de Carajás, da Vale, no Pará. Moradores da região estão atemorizados, com a cidade cercada por mais de mil militantes do MST, a quem acusam de terrorismo”. A reportagem principal, à página 9, é acompanhada de outra de igual tamanho. Ambas ouvem apenas a versão da mineradora privatizada pelo governo tucano de FHC. Imediatamente abaixo, como a reforçar a visão policialesca, uma fotografia de um homem morto sobre o título: “Em Porto Alegre, um flagrante de homicídio”. Nenhum dos dois veículos (O Globo e JN) registrou o apoio recebido pelo MST por artistas, intelectuais e lideranças partidárias.

Nota do COSIFE: Veja a sinopse do documentário da BBC de 1993 denominado Beyond Citizen Kane (Muito Além do Cidadão Kane), cuja exibição está proibida no Brasil, porque conta A História das Organizações Globo (TV GLOBO).

Esta falsa preocupação do Globo com a defesa do povo brasileiro não é de agora. O mesmo jornal que sugere que os militantes do MST são terroristas há 44 anos [Velhos Terroristas] agiu da mesma forma quando um golpe de Estado derrubou o presidente constitucional João Goulart. Em texto editorial do dia 2 de abril de 1964, o “Globo” assinalou:

- Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas (...) para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas (...), o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições (...)

Nota do COSFE: Os patriotas aqui assinalados em negrito são os membros da "sociedade civil" ("Cansados de Derrotas") que promoveram a tal "Marcha contra o Comunismo" para justificar o Golpe de Estado de 1964. O ex-ministro Bresser Pereira, aquele que idealizou o “Plano Bresser” que muitos problemas criou para os trabalhadores, em artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo, em agosto de 2005, utilizando outras palavras, deixa claro que a “sociedade civil” é aquela que tem o poderio econômico suficiente para se manifestar através dos meios de comunicação (Mídia) e para organizar movimentos contra o poder constituído pelo povo, se o governante eleito não for do seu agrado. O ex-ministro escreveu: "Nas democracias, embora o poder seja formalmente do povo, na prática, [esse poder] está com a sociedade civil, que dele [o povo] se diferencia porque, no povo, cada cidadão tem um voto, [e] na sociedade civil o peso de cada cidadão depende de seu conhecimento, de seu dinheiro e de sua capacidade de comunicação e organização". Dias depois, no mesmo jornal, Élio Gaspari traduziu o escrito por Bresser Pereira com as seguintes palavras: "Embora o andar de baixo [o povo] vote, quem manda na prática é o [andar] de cima [a sociedade civil], porque a patuléia é ignorante, não tem dinheiro, nem conhece jornalistas..."

Assim como para o “Globo” os inimigos do passado eram aqueles que se insurgiam contra a ditadura que seqüestrou, torturou e matou milhares de brasileiros, hoje os terroristas são aqueles que lutam contra as multinacionais que roubam o patrimônio público, danificam o meio-ambiente e produzem graves problemas sociais. É por isso que ao interromper o fluxo de exportação de uma dessas empresas os militantes do MST acertam em cheio no sistema nervoso do capitalismo. Dotados apenas de enxadas e coragem, os sem-terra enfrentam jagunços armados, policiais e poderosos grupos de comunicação - esse coquetel que tem como objetivo massacrar o povo organizado. Os militantes do MST ensinam ao povo brasileiro: não é uma luta justa, mas é uma luta que pode ser vencida.

Por outro lado, o jornalismo dos Marinhos mais uma vez revelou seu caráter covarde e submisso. Aliou-se aos poderosos e rasgou o juramento profissional da categoria, sobretudo no seguinte trecho: "A Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na luta por sua dignidade".

Mas não há de ser nada. A História vai se ocupar de reservar a cada qual seu devido lugar.


Veja também os textos: Os Anarquistas - Os Mercenários da Mídia e As Alianças Políticas e a Governabilidade.

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